Retorcido. Quebrado. Vazio. As gotas
de chuva caem no meu rosto e se misturam às lágrimas de tal forma que eu não
consigo diferenciar o que provém do meu interior e o que, vindo do exterior, me
representa tão bem que chego a me perguntar se aquilo também não vem de dentro
do meu ser rasgado e bagunçado. A dor dilacera e, contraditoriamente, fortalece.
Para quando, eu não sei. Mas fortalece. Mesmo que em passos minúsculos. Você
senta ao meu lado e me diz que nada disso importa, que tudo vai ficar bem (porque
você sabe que não vai). Minhas certezas autoimpostas se esvaem e desfalecem,
juntando-se aos infinitos grãos de areia e mostrando sua face real: um palco
armado, no qual eu sou a estrela principal e o coadjuvante, o herói e o bandido,
a presa e o algoz. Ao passo em que um relâmpago corta as nuvens, viro os meus
olhos para te ver novamente, mas você não existe. É uma mera ilusão, mais um
roteiro que me foi escrito (por mim mesmo, ouso dizer) no grande e sôfrego
espetáculo chamado vida. Mudo de lugar só
pra confirmar o flagelo de tua (in) existência e tudo o que eu consigo, a
partir daí, é acompanhar a tempestade – que, veja bem, é da cor dos teus falsos
olhos – que castiga as rochas; da mesma forma que castiga também a mim. Um
cheiro, um gosto, uma lembrança. Café, chocolate, livros. Noites, sonhos. Formas totalmente disformes, lembranças que de
tão falsas se tornam esquecíveis e um inevitável e um doce amargo (por que
não?) sabor de derrotismo, antes mesmo do início da batalha. Não, não vai ficar bem. Não, não vai sarar.
Quando eu fechar meus olhos e adormecer, vai vir a mim novamente como se estivesse
comigo desde vidas passadas. Vai me perseguir como um fantasma, sem me deixar –
ao menos em sonho – ser feliz – ao menos com a estúpida ideia de uma
possibilidade ínfima. E, ao mesmo tempo em que me puxar para o fundo, vai me
levantar, só pra ter o sabor de me derrubar depois. Enquanto me matar, vai me
fortalecer, só pra poder me matar de novo. É, novamente, a doce contradição.
Sorri. Chora. Mas uma coisa nunca muda. Sente falta. De quê? Não se sabe. Só
sente. E por sentir, morre. E por sentir, vive.
Um comentário:
Como sempre, muito bom o texto alê. Chega me emocionei ao ler :~
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